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ViraVida: programa do Sesi muda realidade de 50 jovens do DF
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- Publicado: Quinta, 12 Novembro 2009 14:56
Meninos e meninas brasilienses, em situação de vulnerabilidade social, serão acompanhados durante um ano e já iniciarão os cursos de Assistente Administrativo e Recepcionista
Para muitos, caminhar pelo litoral brasileiro e se deparar com a comum cena de aliciamento de menores, seria motivo, apenas, de desviar o rumo. Mas a indignação de um homem diante de um de uma das piores formas de violação dos direitos humanos, a exploração sexual, tem feito com que adolescentes e jovens brasileiros tenham uma oportunidade de mudar de vida. Jair Meneguelli, presidente do Conselho Nacional do Sesi, assistiu numa praia em Fortaleza, diante de sua minha família, uma agenciadora de menores entregando meninas, entre 14 e 16 anos, a estrangeiros. “Era como se servisse água de coco na mesa de italianos. Aquilo me indignou. Não pude me omitir diante do ocorrido. Tinha que fazer algo”, conta Jair. O profundo incômodo resultou na criação do Programa ViraVida, já implementado em quatro cidades brasileiras – Recife, Natal, Belém e, é claro, Fortaleza – que atende jovens que já foram ou são vítimas de exploração sexual, promovendo a defesa dos direitos humanos, com um processo socioeducativo, desde acompanhamento psicológico até a formação profissional.
Agora, chegou a vez do DF receber o ViraVida. Hoje, 50 meninos e meninas brasilienses, de 16 a 21 anos – muitos oriundos das ruas de Taguatinga – foram as estrelas da aula inaugural do programa na capital federal que contou, inclusive, com a presença ilustre da primeira-dama do País, Marisa Letícia. A cerimônia marcou o início das aulas de Assistente administrativo e Recepcionista, que terão duração de um ano. Os cursos desenvolvidos forma escolhidos a partir do alinhamento entre a demanda do mercado de trabalho e do perfil e das expectativas dos jovens. Esses alunos receberão, ainda, educação básica, por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA), aulas de empreendedorismo, atendimento médico e odontológico, além de acompanhamento de um assistente social e psicólogo.
Durante a cerimônia, uma das alunas formandas do ViraVida aplicado em Natal, Andréia Lima* (22), relatou que foi a grande chance de sua vida. “Terminei meus estudos por meio do ViraVida e ainda montei uma loja de roupas, meu próprio negócio. Hoje sou uma empresária. Esta é uma oportunidade verdadeira. Agarrem-na”, disse a jovem aos alunos do DF, presentes no evento. Cleitiane fez o curso de Desenho de Moda, por meio do Senai.
Já a aluna Catarina Araújo* (22), também de Natal, contou, emocionada, que a oportunidade a fez mudar completamente de vida. “Há um ano, minha vida não tinha sentido. Tudo o que está acontecendo na minha vida, eu imaginei com outras pessoas, mas nunca comigo”, relatou Cristina, que diz ter montado um salão de beleza, após receber a qualificação. “Além disso, ainda fui convidada para participar da Olimpíada do Conhecimento, por meio do Rio Grande do Norte. Fiquei em segundo lugar no estadual e espero conquistar uma vaga para no nacional”, disse.
Para o presidente da Fibra, todas as pessoas são iguais, dotadas de inteligência. A diferença, portanto, está na oportunidade. “Nesta mesa, vocês estão vendo a primeira-dama do País, o presidente do conselho Nacional do Sesi, o governador do DF, o secretária de trabalho e a mim, presidente da Federação das Indústrias. Todos nós tivemos uma oportunidade na vida e estamos aqui. Agora é a vez de vocês”, disse Rocha, na ocasião.
Segundo o governador em exercício, Paulo Octávio, o projeto o encantou e, por isso, ganhou total apoio do GDF. “São iniciativas como essas que podem mudar nosso País. Daqui um ano, estaremos comemorando a diplomação destes alunos que, com certeza, serão absorvidos pelo mercado de trabalho, porque serão profissionais de primeira qualidade”, ressaltou.
Calcula-se que cerca de 2,5 milhões de pessoas no mundo inteiro são mantidas em situação de servidão sexual. Segundo a ONG Coalizão contra Tráfico de Mulheres e Meninas da América Latina, o fenômeno atinge 1 milhão de jovens no continente. Já a Pesquisa sobre Tráfico de Pessoas para Fins Sexuais (Pestraf), indica que mais de 930 municípios brasileiros são atingidos por Redes de Exploração Sexual.
Utopia que virou realidade
Para a maioria dos 50 jovens brasilienses que serão atendidos pelo ViraVida, o programa será o resgate da identidade distorcida diante da dura realidade das ruas, da exploração sexual e até do crime. Isso porque estes meninos e meninas trocarão o acesso fácil às drogas pelo livre alcance aos livros; o frio das ruas pelo aconchego de uma sala de aula; o medo da vida e o desprezo das pessoas pelo êxtase atrelado à oportunidade de vencer e pelo vislumbre de uma vaga de trabalho; a dúvida de um futuro inserto pela certeza de um amanhã ensolarado.
O jovem João Pedro Guimarães* (19) disse, abertamente, que o maior ganho do ViraVida será a reinserção na sociedade. “Eu era um homem do crime. E hoje, em função do projeto, posso circular entre as pessoas. Essa sensação é inexplicável. Vida nova daqui pra frente”, disse o rapaz, que fará o curso de Recepcionista.
Já Renata Silva* (18), aluna de Assistente Administrativo, nunca a vida lhe deu uma oportunidade semelhante. “Estou grávida e, pela minha filha, vou agarrar essa oportunidade como que não fosse existir outra na minha vida. É por ela que minha meta é o emprego”, contou Naiara.
Um dos grandes parceiros do programa é o Movimento dos Meninos e Meninas de Rua do DF – Projeto Giração. A coordenadora da Casa Giração, Eliena de Barros, explica a importância do ViraVida para esses jovens. “O projetos pra muitos desses meninos que estão aqui, que saíram da “pista da Rodoviária de Taguatinga”, como eles mesmos dizem, é, de fato, uma virada de vida. Um sentido de existir”, disse. Ainda segundo Eliena, os adolescentes se encontravam em situação de rua, prostituição e até criminalidade. “Deixar essa vida para construir uma vida nova é o que o projeto oportunizará a eles”, finaliza.
Para que o ViraVida seja implementado no DF, diversos parceiros foram formados, ao lado do Sesi-DF. São eles: Sistema Fibra; Sistema Fecomércio; Crecia e Movimento dos Meninos e Meninas de Rua do DF – Projeto Giração; Instituto Marista – Projeto Acolher; Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest); Casa de Passagem; Abrire; Violes – Grupo de Pesquisa sobre Tráfico de Pessoas, Violência e Exploração Sexual de Mulheres, Crianças e Adolescentes; 1ª Vara da Infância e da Juventude do DF.
*nome fictício
Jornalista
Suzana Leite