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Entrevista com presidente da CNI, Armando Monteiro Neto

Antes da deixar a presidência da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no último dia 31 de maio, o deputado Armando Monteiro Neto concedeu entrevista exclusiva ao Jornal de Fibra. Nela, Monteiro Neto faz um balanço dos últimos quatro anos que esteve à frente da Confederação, das decisões da entidade durante a crise financeira, em 2008, além de ressaltar a importância do documento A Indústria e o Brasil – Uma Agenda para Crescer Mais e Melhor, entregue, no final de maio, aos pré-candidatos ao Palácio do Planalto, em sabatina promovida pela entidade.

Jornal de Fibra - Como o senhor avalia os últimos quatro anos à frente da indústria nacional? Quais os avanços conquistados e quais os maiores obstáculos enfrentados?

Armando Monteiro Neto – O balanço é altamente positivo. A agenda da indústria, hoje, está muito longe do corporativismo, confundindo-se com a agenda do país, como vimos no concorrido encontro com os três principais candidatos presidenciáveis, na Confederação Nacional da Indústria, no dia 25 de maio último. A crise econômica, praticamente superada, reforçou o papel da CNI como instituição protagonista do desenvolvimento brasileiro. A entidade cumpre a função original de defender os interesses da indústria, com competência e firmeza, mas sua agenda, hoje, vai muito além desse papel.

Jornal de Fibra - Como a CNI atuou na crise?

Monteiro Neto - Durante a crise, a CNI participou intensamente das decisões que contribuíram para atenuar seus efeitos na economia brasileira, tanto nas discussões no governo quanto no Congresso Nacional. Para citar só duas, propostas da CNI foram acolhidas em Medidas Provisórias  convertidas na Lei nº 11.933, que alterou o prazo para o pagamento dos impostos, e na Lei nº 11.941, que estabeleceu novo parcelamento de débitos tributários, ambas com o propósito de melhorar as condições de operação das empresas. Participamos ativamente, também, do processo das desonerações tributárias, que permitiram manter um ativo mercado interno. A lamentar é o país não ter conseguido avançar nas macro-reformas, as reformas estruturantes, como a tributária e a trabalhista, apesar do grande empenho da indústria por tais mudanças, essenciais para destravar os gargalos ao crescimento sustentável brasileiro.

Jornal de Fibra - A CNI fez recentemente um encontro com os presidenciáveis. Diante das colocações dos três pré-candidatos, na sua opinião, o que a indústria brasileira pode esperar do novo governo?

Monteiro Neto – As 230 páginas do documento da A Indústria e o Brasil – Uma Agenda para Crescer Mais e Melhor fazem um diagnóstico amplo e preciso dos entraves ao crescimento sustentável e, sobretudo, alinham as alternativas para superá-los, factíveis, realistas. Não é sem razão que todos os três candidatos que discutiram o documento com os empresários, no encontro da CNI, Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva, elogiaram a qualidade do documento.  Temos fundadas convicções de que muitas das propostas da indústria serão adotadas, até mesmo porque, sem elas, não há como o Brasil evoluir. As macro-reformas - como a tributária, a política, a da previdência e a trabalhista - têm impacto mais horizontal e maior efeito sobre o crescimento, mas são mais complexas. As micro-reformas, igualmente importantes, podem ter impacto sobre a competitividade das empresas e o desenvolvimento setorial. Nessa agenda, há questões que passam pelas aduanas, portos, regras do funcionamento setorial, desburocratização, operação e adaptação.
Acredito que o próximo presidente da República, seja quem for, não poderá perder tempo em promover as macro-reformas.  Não é fácil, mas é viável, desde que haja forte liderança e determinação política. São ações que exigem um grau de mobilização bem mais ao alcance de um governo em início de mandato, sob o impulso do calor das urnas e eleitoralmente capitalizado. 

Jornal de Fibra - Como o senhor enxerga a importância das casas - Federações, Sesi, Senai e IEL - para o desenvolvimento e sustentabilidade da indústria brasileira?

Monteiro Neto - A CNI tem passado por um intenso processo de transformação. O objetivo é aumentar a sua eficácia como a voz da indústria brasileira. Esse trabalho envolveu reforço à profissionalização, implantação de métodos modernos de gestão e de planejamento, ampliação da base empresarial, prioridade a ações de influência e foco em ações proativas e no desenvolvimento associativo. E, claro, passou também por uma interlocução mais próxima com as federações, que movem a CNI. Como entidade de caráter nacional, a CNI se concentra em temas horizontais, com foco na melhoria da competitividade e do ambiente de negócios.

Jornal de Fibra - Como funciona o diálogo da indústria com o poder público?

Monteiro Neto- Atuamos fortemente nas três instâncias de poder. No Congresso, operamos a Agenda Legislativa da Indústria, uma relação dos projetos em tramitação na Câmara e no Senado de impacto no ambiente de negócios. A Agenda Legislativa, que está na 15ª edição, este ano, é o diálogo mais duradouro e transparente que um grupo da sociedade mantém com o Congresso Nacional.  No âmbito do Executivo, a CNI está presente em mais de 200 instâncias de representação. Nossas ações se concentram nas questões de comércio exterior e negociações internacionais, infraestrutura, meio ambiente, tributação, micro e pequenas empresas, relações do trabalho. No Poder Judiciário, nosso objetivo é assegurar que a Constituição seja respeitada em leis e atos do Poder Público que repercutam diretamente nos interesses da indústria. A CNI tem competência constitucional para propor Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn), Ação Direta de Constitucionalidade (ADC), Ação Declaratória de Preceito Fundamental (ADPF) e Súmulas Vinculantes. 
 
Jornal de Fibra -
O Comitê de Política Monetária do Banco Central iniciou uma trajetória de elevação da taxa básica de juros.  Como isso pode prejudicar a retomada de crescimento da indústria nesse período pós-crise?

Monteiro Neto - A alta da Selic, sem dúvida, prejudica a indústria.  É imprescindível  coordenar as políticas monetária e fiscal, de forma a enquadrar a meta de inflação sem maiores danos ao setor produtivo e ao investimento privado. A política monetária não pode ser o único instrumento de combate à inflação. A política fiscal também tem de ser adequada aos objetivos de estabilidade econômica e de preços.
 
Jornal de Fibra - Pensando num período de longo prazo, como o senhor vislumbra a indústria brasileira nos próximos anos e a participação do setor na economia brasileira?

Monteiro Neto– A questão central do nosso documento Crescer Mais e Melhor é justamente colocar a indústria no centro da estratégia de crescimento da economia. É viável, sim, como estabelece a agenda da indústria para o próximo governo, crescer 5,5% ao ano, encurtando de 21 anos, ritmo atual, para 15 anos, a possibilidade de dobrar a renda per capita, hoje de US$ 10.465. Desde que o crescimento da economia se baseie na indústria. O Relatório de Desenvolvimento Industrial da ONU de 2009 constata que países com ritmo expressivo e sustentável de crescimento têm a indústria como sua maior fonte de dinamismo.  A indústria tem força transformadora pelo seu impacto na produtividade global da economia e sua influência nos demais segmentos do sistema produtivo. O setor industrial paga 27% do total dos salários da economia, emprega um de cada quatro brasileiros de carteira assinada, responde por 22% do PIB, promove a inovação. Apenas Estados Unidos, Canadá e México têm estrutura industrial semelhante à do Brasil.

Suzana Leite
Sistema Federação das Indústrias do DF (Fibra)
61 3362-3878
Foto: Cristiano Costa/Unicom Fibra

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