Alunos do ViraVida com passaporte para mercado de trabalho

Imagine você sair da sua colação de grau já com um vínculo empregatício? Os 35 alunos da turma de 2011 do programa ViraVida que se formaram ontem (28) tem bons motivos para comemorar. Por meio de uma parceria com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), 25 formandos saem das salas de aula diretamente para o posto remunerado de jovens aprendizes. Além disso, os demais serão recebidos na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria (Sesi) e Sesi-DF, além de receber capacitação na OnG Programa Futuro, da Fundação Banco do Brasil. Alguns deles, já saíram da formatura com carteira de trabalho assinada. “Sou auxiliar administrativo formado pelo Senai, vou trabalhar nos Correios e assim que der, vou entrar na faculdade de direito”, contou o jovem F. M. L., de 20 anos, morador do Novo Gama. “É pelo futuro que a indústria trabalha, transformando realidades, gerando inclusão social e contribuindo para o melhor desenvolvimento econômico e social do Brasil”, observa o presidente do Sistema Federação das Indústrias do Distrito Federal (Fibra), Antônio Rocha.

Meninos e meninas, que anteriormente viviam em situação de vulnerabilidade social, grande parte com histórico de exploração sexual, colhem os frutos da transformação a que suas vidas se submeteram desde o momento em que aceitaram fazer parte do programa. Em cerimônia solene, realizada no Centro Cultural do Sesi (CCS), em Taguatinga, a formatura desta turma marcou, oficialmente, o ingresso dos jovens no mercado de trabalho. A promotora de justiça do MPDFT, Selma Leite do Nascimento Souza, ao assinar o convênio para receber os novos jovens aprendizes, deixou uma mensagem de otimismo. “Fui uma garota humilde que tinha o sonho de me tornar promotora. Sei bem onde vocês estão e onde podem chegar”, disse ela, logo após o mestre de cerimônia anunciar que a oferta de vagas no órgão ter subido de 20 para 25. “O sentimento é de superação”, resume a formanda N.G., de 17 anos, primeira a ser aprovada na seleção para entrar no MPDFT.

Em sua essência, o foco do programa está na promoção da elevação da autoestima e da escolaridade dos adolescentes e jovens participantes, que é o pontapé inicial para a inserção no mercado de trabalho. O presidente do Conselho Nacional do Sesi, Jair Meneguelli, faz questão de frisar que não se trata simplesmente de uma ação de recursos humanos. “É uma realização conduzir esses jovens à digna empregabilidade, mas principalmente por abandonar posições vulneráveis à exploração, seja ela qual for”, celebra o idealizador do ViraVida, que surgiu de uma indignação pessoal ao se deparar com a exploração sexual no litoral brasileiro. “Nós sozinhos não podemos mudar nada. Mas, unidos, podemos construir uma rede do bem. E precisamos convencer a essas crianças que elas têm outra oportunidade na vida. Esse projeto salva vidas, eu sou testemunha disso”, comentou.

O presidente do Sistema Fibra, Antônio Rocha, endossa. “Às vésperas de um grande evento internacional como a Copa do Mundo, é o momento de mostrar que nosso País valoriza sua infância e juventude”, observa. Nesse sentido, a Secretaria de Estado da Criança do DF também formalizou o desejo de aliança com o programa. “No que depender de nós, faremos o possível e o impossível para o DF ser referência no ViraVida”, garante a secretária de Estado Rejane Pitanga. “A sociedade só tem resgate quando reúne esforços”, avalia o superintendente do Sesi-DF, Adonias dos Reis Santiago.


Superação e otimismo
A segunda turma do Projeto ViraVida no DF teve início em setembro de 2011 e percorreu uma longa caminhada. A capacitação profissional foi oferecida em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). No Senai, na turma de Capacitação Introdutória Profissional para a Indústria, os alunos contaram com a oportunidade de cursar sete módulos: Introdução à Informática, Reparação de Aparelhos Eletrônicos, Costura Industrial Básica, Instalação Hidráulica Básica, Elétrica Predial Básica, Mecânica Básica de Automóveis, Panificação Básica. Já no Senac, os jovens participaram das turmas de Auxiliar Administrativo. Entre as disciplinas cursadas está a de Processo do Trabalho. Além dos módulos básicos dos cursos, eles participaram, no período matutino, de recuperação escolar. Os jovens foram distribuídos em uma turma de 5ª a 8ª serie e outra de 1ª a 4ª serie. Às segundas-feiras, os alunos praticavam atividades físicas e recebiam atendimento médico e odontológico no Sesc. “Os alunos receberam, ainda, noções de cidadania, ética e valores morais. Esse projeto permeou todos os cursos. Como eles vêm de situações conflituosas, oferecemos uma vivência de resgate da autoestima”, ressaltou a coordenadora do projeto no DF, Cida Lima.

Na mesma ocasião em que os antigos alunos do programa ViraVida se formaram, uma nova turma de 40 jovens e adolescentes do Distrito Federal foi apresentada aos parceiros. Nada melhor do que o exemplo dos que saíam com vínculo empregatício e sorrisos de vitória nos rostos para se ganhar uma injeção de estímulo para seguir até o fim. “Eu também quero viver essa emoção. Mal posso esperar”, observou a jovem V.O.A.

A cerimônia que consolidou a transição da segunda para a terceira fase do programa no DF foi marcada pela emoção. Muitas lágrimas e vozes embargadas por parte de alunos, professores, gestores e pelo idealizador do programa. “Difícil não deixar a emoção fluir. São vidas sendo restauradas”, declara Jair Meneguelli. Vidas como a da jovem D. B. S., 17 anos, que vivia em ambiente de agressividade e sem expectativas, até que foi selecionada, entre 200 outros meninos e meninas. Agora vai ser eletricista predial. “Eu percebi que sou capaz. Que posso conseguir mais. Na verdade, eu descobri que eu sou demais!”, ela se empolga. Motivos para isso, a nova aluna tem de sobra.

Texto: Patrick Selvatti

Foto: Nilson Carvalho

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